Vamos falar de doença celíaca?

Vamos falar de doença celíaca?

“Devo ter Doença Celíaca. Como um pãozinho e logo sinto uma azia e fico inchada. Toda vez que como glúten eu ganho uns 2Kg na balança. Não adianta, é só eu olhar para uma macarronada que já fico toda retida.”

Essas frases são comuns nos atendimentos de nutrição. De uns anos para cá, quase toda paciente que pensa em perder peso, sente desconforto ao comer glúten. Mas será mesmo que todo mundo, de repente, passou a apresentar uma sensibilidade à essa proteína?

Afinal, o que é a doença celíaca e por que é tão importante não se negligenciar às reações ao glúten e tratar de forma tão leviana uma doença que é grave, às vezes silenciosa e perigosa?

Não, hoje não vamos falar de emagrecimento. Hoje vamos falar de Doença Celíaca! Afinal, notamos que aqui no Blog da Energié temos artigos falando sobre o glúten, mas ainda não havíamos falado da doença que ele pode causar.

Definição de doença celíaca

A Doença Celíaca pode ser definida em uma frase:

A Doença Celíaca (DC) é uma enteropatia crônica do intestino delgado, de caráter autoimune, desencadeada pela exposição ao glúten em indivíduos geneticamente predispostos.

Com essa definição a gente pode entender diversos aspectos dessa doença que vão caracterizá-la e facilitar na hora de investigar mais à fundo se a pessoa realmente é celíaca.

Vamos entendendo um por um?

… enteropatia – Entero=intestino, patia=doença, logo, é uma doença do intestino.

… crônica – é uma doença que se apresenta ao longo do tempo, dura muito tempo, não se cura rapidamente.

…do intestino delgado – é uma doença do intestino, mais especificamente da porção chamada de intestino delgado, que tem a função específica de absorver alguns nutrientes.

…de caráter autoimune – uma doença é chamada de autoimune, quando ela tem a característica de atacar o próprio organismo. É o seu sistema imune lutando contra o seu próprio corpo, partes do corpo, moléculas, etc.

… desencadeada pela exposição ao glúten – essa parte aqui, mostra que toda a reação autoimune que a pessoa vai ter, precisa da presença do glúten para acontecer. A pessoa tem contato com o glúten e isso faz o corpo dela começar a lutar contra ele mesmo, nas células do intestino delgado.

… em indivíduos geneticamente predispostos – aqui é o ponto chave para perceber que não é qualquer pessoa que tem reação autoimune ao glúten. Para a pessoa se tornar um doente celíaco, ela terá fatores genéticos, ou seja, genes específicos que fazem com que ela tenha uma resposta autoimune quando exposta ao glúten.

Guarde esses conceitos, pois eles fazem a maior parte das pessoas que diz tirar o glúten da alimentação para emagrecer estar tratando de maneira negligente um problema de saúde grave que é a Doença Celíaca.

Sintomas

Quando os portadores da doença apresentam os sinais clássicos, normalmente serão:

  • Adultos: diarreia crônica, perda de peso, anemia, distensão abdominal, mal-estar e edemas.
  • Crianças: perda de peso, baixa estatura, vômitos, diarreia, dor abdominal recorrente, atrofia muscular, intestino irritável, irritabilidade e desconforto.

No consultório de nutrição, as principais queixas e sinais serão: diarreia, esteatorreia, distensão abdominal, diminuição da musculatura glútea, perda de peso, além de deficiências nutricionais.

Também existem os sintomas da forma atípica da doença, são eles:

Dermatite herpetiforme, hipoplasia do esmalte dentário, osteoporose, baixa estatura, atraso na puberdade, infertilidade, anemia por deficiência de ferro, deficiência de ácido fólico e vitamina B12, doenças neurológicas, alterações comportamentais, artrite e doenças hepáticas.

Por que esses sintomas aparecem?

Fica mais fácil de entender o porquê da Doença Celíaca causar esses sintomas descritos acima, quando observamos a diferença entre um intestino normal e um de um celíaco:

Como vocês podem perceber pela imagem, um intestino normal apresenta em sua parede, células compridas que parecem dedos. E é por causa desse comprimento que os nutrientes são melhor absorvidos, porque o intestino tem mais espaço para ficar em contato com os nutrientes e absorvê-los.

Já na mucosa da parede de um celíaco, de tanto ser exposta ao glúten, o corpo (lembra que é autoimune?) começa a atacar esses “dedos”, fazendo com que eles fiquem cada vez mais curtinhos e achatados, perdendo MUITO espaço e capacidade de absorver nutrientes.

Por isso a perda de peso, as diarreias, anemias e todos os sintomas descritos anteriormente. E também é por isso que um doente celíaco é diferente de uma pessoa que simplesmente “não se dá muito bem” com glúten.

Como é feito o diagnóstico?

Primeiramente é importante salientar que o diagnóstico definitivo de Doença Celíaca é feito por um médico e não por Nutricionistas, pois os exames que DEVEM ser feitos são específicos.

Para diagnosticar a Doença Celíaca, normalmente há uma suspeita já muito grande de que a pessoa tem o quadro. Pois não existe somente um fator observado que levará ao diagnóstico. É uma associação de sinais clínicos e laboratoriais que fecham o diagnóstico.

O primeiro passo quando se há a suspeita de doença celíaca é: NÃO, NÃO, NÃÃÃÃOOOOO retirar o glúten da alimentação.

Sim, é isso mesmo que você leu. Antes de fechar o diagnóstico de doença celíaca, é imprescindível que a pessoa esteja exposta ao glúten. Porque primeiro ela fará um exame sorológico (exame de sangue) em que será identificada a presença de anticorpos que só aparecem para aqueles que tiveram a resposta imune desencadeada pelo glúten.

Então primeiro a pessoa fará o exame que detecta o antiendomísio e o antitransglutaminase tecidual. E em caso de resultado positivo (na presença de glúten), ela fará a biópsia duodenal, que é o exame que fecha definitivamente o diagnóstico, pois observará aquele achatamento das vilosidades e presença de porções inflamadas também.

O rastreamento de doença celíaca em indivíduos que não apresentam sintomas, não é indicado!!! Então, lembre-se, se você sente desconforto ao comer glúten, primeiro procure um Nutricionista que irá investigar se os sintomas que você apresenta são característicos da doença e saberá te encaminhar à um especialista para maiores investigações. NÃO RETIRE O GLÚTEN DA DIETA SEM ORIENTAÇÃO!

Nesse artigo aqui já falamos um pouco sobre essa retirada desnecessária do glúten da dieta.

Como é o tratamento da Doença Celíaca?

O tratamento da Doença Celíaca consiste exclusivamente na retirada do glúten da dieta. Não existe outra forma de tratar.

E para isso o paciente precisa estar atento inclusive à contaminação cruzada, ou seja, não pode utilizar produtos que tenham glúten em sua composição e nem que passaram por utensílios que manipulem os alimentos que contém glúten (caso da aveia).

Os alimentos que contém glúten em sua composição são:

  • Trigo
  • Centeio
  • Cevada

E a aveia muitas vezes apresenta traços devido à contaminação.

Para evitar o consumo de glúten, o celíaco deve dar preferência para todos os cereais integrais que não os descritos acima e ficar atento ao rótulo dos produtos industrializados, pois é graças a eles que a indústria é obrigada a declarar se contém glúten ou não em seus produtos.

Quando não é feita a retirada do glúten da alimentação do Celíaco, há um maior risco de desenvolvimento de neoplasias, câncer, infertilidade, fraturas, entre outros problemas graves de saúde.

Por isso não se deve negligenciar os sintomas e, quando necessário, investigar se a pessoa apresenta ou não o quadro de doença celíaca.

Retirar o glúten da alimentação para fins estéticos não é aconselhável. Dizer que tem intolerância ao glúten sem ao menos realizar uma investigação mais à fundo também prejudica aquelas pessoas que realmente apresentam uma doença e precisam que seu caso seja tratado com a devida importância.

Intolerância ao glúten não celíaca

Mas, Nutri, eu tirei o glúten da alimentação é reparei que melhorei de diversos sintomas. O que pode ser isso?

Bom, existe a possibilidade da pessoa reagir bem à retirada de alimentos fontes de glúten da alimentação. Nesses casos, essas pessoas são consideradas intolerantes ao glúten não celíacos.

Mas tem um problema com essa classificação. Até hoje, os estudos realizados não encontraram diferenças significativas entre grupos que, quando comparados e controlados, retiram o glúten ou só fazem uma dieta placebo. Portanto ainda não se sabe qual a real prevalência dessa intolerância na população.

E convenhamos, quais os alimentos que você costuma comer que são fontes de glúten? Experimente retirar todos! Pães, biscoitos, torradas, cerveja, cereais matinais, pizzas, massas, etc.

Se você for substituir pelas versões sem glúten que existem no mercado, vai gastar uma grana! Se substituir por outros tipos de alimentos, provavelmente serão opções com mais valor nutritivo. Então a perda de peso normalmente se dá pela restrição calórica ou melhora da qualidade alimentar, e não pela ausência do glúten.

Pense nisso!