Amamentação prolongada: benefícios e dificuldades para mãe e bebê

Amamentação prolongada: benefícios e dificuldades para mãe e bebê

No início da amamentação, muitas mulheres passam por dificuldades. Quando a coisa engrena, percebemos o quão prazeroso e saudável a amamentação pode ser.

Mas até quando amamentar?

Hoje vamos falar sobre a amamentação prolongada e o quanto essa prática traz benefícios. Mas, como nem tudo são flores, então também vamos falar sobre os desafios de amamentar por mais tempo… E ainda algumas formas descontraídas de fugir dos palpites não solicitados!

O que é amamentação PROLONGADA?

Para entendermos o que seria considerada uma amamentação prolongada, primeiro precisamos definir o período recomendado de amamentação.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde, é recomendado que a amamentação seja exclusiva, ou seja, o bebê receba APENAS leite materno (nem água), até os 6 meses de vida. Nessa idade ocorre a introdução alimentar, mas o nome já diz, é quando o bebê começa a ser apresentado aos alimentos.

Dos 6 meses até 1 ano de vida, o leite materno ainda é o principal alimento que fornece a maior parte dos nutrientes necessários à vida do bebê.

A partir de 1 ano, os alimentos passam a ser a principal fonte de nutrientes e o leite materno passa a complementar a alimentação. E, então, a recomendação das instituições é que a amamentação deva permanecer por dois anos OU MAIS.

Portanto, se a recomendação é de dois anos ou mais, amamentação prolongada é aquela que ultrapassa os dois anos de vida do bebê.

É uma realidade incomum no nosso país, uma vez que a duração mediana da amamentação é de aproximadamente 1 ano e 4 meses. Sendo a mediana de amamentação exclusiva de 3 meses apenas.

Além de ser uma prática incomum, sabemos que não são muito incentivadas pelo mercado de trabalho, profissionais de saúde desatualizados e sociedade em geral. Mulheres que querem manter a amamentação pelo tempo recomendado passarão por diversos desafios e falaremos deles mais adiante.

Quais os benefícios da amamentação prolongada para mãe e bebê?

Mas antes, se você pensa em amamentar pelo tempo recomendado, saiba que todos os benefícios associados a amamentação em geral estão também associados à amamentação prolongada. E provavelmente terão maior potencial quanto maior o período de amamentação.

Lembrando que independente do tempo que você consiga amamentar, mesmo que você precise complementar a amamentação e/ou alimentação com fórmula infantil, saiba que leite materno tem benefícios à cada gota que é oferecida ao bebê!

Os benefícios da amamentação estão muito além da oferta de nutrientes de maior qualidade e em quantidade adequada para o bebê. Existem componentes no leite materno que auxiliam no sistema imunológico e a amamentação também traz benefícios em aspectos sociais a curto e longo prazo para a mãe e bebê.

Amamentação prolongada: benefícios e dificuldades para mãe e bebê

O ato de amamentar também favorece o vínculo entre mãe e bebê. E ao contrário do que dizem, amamentar por mais tempo pode favorecer a autonomia e autoconfiança da criança.

Quais as maiores dificuldades da amamentação prolongada?

Como falei, nem tudo são flores ou uma lua de leite… Amamentar por mais tempo que a maioria das mulheres pode trazer alguns desafios que são importantes de desbravarmos. Afinal, conhecimento é autonomia e autoconfiança! Uma vez que você conheça as principais dificuldades que pode encontrar pela frente, você estará preparada para enfrenta-las e também se sentir segura da escolha que fez.

Vamos falar dos principais desafios que podem limitar o tempo de amamentação.

Volta ao Trabalho

No Brasil ainda estamos engatinhando no quesito políticas públicas de promoção da amamentação. Em geral, mulheres que estão trabalhando em regime CLT precisam retornar às atividades após 4 meses de licença maternidade. Muitas ainda consegue emendar férias e acabam aumentando esse período para 5 meses.

Empresas “Cidadãs” (programa do governo) oferecem uma licença maternidade mais longa de 6 meses. Para os pais (que podem ser um grande ponto de apoio da amamentação), a licença é de 5 dias no regime CLT e 20 dias nas empresas cidadãs. Mas convenhamos, a maior parte das mulheres do Brasil está em trabalho informal ou autônomo, que não permite às vezes nem que se recuperem do parto, que dirá continuar amamentando sem trabalhar.

Esse ponto pode levar a mãe a não ter como amamentar o bebê nem pelo período exclusivo de 6 meses, pois no trabalho presencial dificilmente a mãe consegue estar próxima do bebê para isso.

Uma alternativa seria fazer um “estoque” de leite em casa para o cuidador oferecer ao bebê. E a mãe conseguir ordenhar o leite nos períodos que estiver fora, para manter o estímulo de produção do leite.

Mas sabemos que nem toda empresa ou local de trabalho permite ou têm um espaço para que a mãe retire leite e muito menos consiga armazenar pelo tempo adequado para levar para casa depois.

Uma estratégia para manter a produção de leite é fazer a ordenha mesmo assim e, infelizmente jogar fora o leite. Pense que isso está sendo feito para manter os benefícios de continuar amamentando.

Como oferecer o leite na ausência da mãe?

Para quem for oferecer o leite ordenhado enquanto estiver cuidando do bebê na ausência da mãe, é EXTREMAMENTE importante não oferecer em utensílios com bicos, além de também não oferecer bicos para “substituir” a sucção que o bebê estaria fazendo no seio materno. Isso vale para mamadeiras, chuquinhas, chupetas, conchas de silicone, bicos de silicone e às vezes até o dedo do cuidador.

O uso de bicos de qualquer espécie está associado ao desmame precoce e outros tantos malefícios para a saúde física e emocional do bebê. Note que esses utensílios apresentam um alerta do Ministério da Saúde em suas embalagens. O bebê acaba confundindo os bicos com o seio da mãe e o fluxo do leite sai com intensidades diferentes. O bebê vai achar mais fácil usar a mamadeira e se irritar ou largar o seio da mãe, levando a produção de leite a cair.

Peça que usem colher dosadora e/ou copinhos de cafezinho ou shot.

Profissionais de saúde desatualizados

E quando a recomendação de parar de amamentar vem de um profissional da saúde?

Não podemos descartar o poder da indústria alimentícia e farmacêutica. Então, sim, a pressão das propagandas, patrocínios e a dificuldade dos profissionais se manterem atualizados ou até financeiramente satisfeitos pode atrapalhar a amamentação.

Isso acontece quando um médico ou nutricionista indica o uso de fórmula ou composto lácteo ou leite quando não há necessidade. Fórmulas são como medicamentos! Devem ter indicação correta, dosagem e tempo de uso. Composto lácteo é um produto alimentício ULTRAPROCESSADO e não deve nem fazer parte da alimentação da criança. Leite só é recomendado após 1 anos de vida.

  • Quando um dentista ou médico diz que leite materno não deve ser oferecido à noite pois pode causar cárie. (Isso não é verdade! E o período da noite é quando o leite materno oferece diversos nutrientes que inclusive ajudam no sono do bebê – melatonina).
  • Ou até mesmo quando o pediatra não sabe avaliar o crescimento da criança corretamente e se limita a números e não a um acompanhamento correto e atualizado. Muitas vezes esse profissional vai dizer “seu bebê precisa ganhar Xg por semana” e não está acontecendo porque seu leite não é suficiente.

Isso está completamente ERRADO! Seu bebê precisa crescer adequadamente dentro das curvas de crescimento da OMS, além de estar urinando suficientemente. Seu bebê cresce, faz xixi e cocô? ELE TÁ ÓTIMO COM SEU LEITE!

Para mais informações sobre introdução alimentar, temos um artigo ótimo aqui no nosso blog, clique aqui para saber mais!

Falta de rede de apoio

É um pai que não consegue nem ficar um mês completo ao lado da esposa e filho. Uma avó que já não está mais com saúde para enfrentar a rotina cansativa. E não ter condições financeiras para contratar uma ajuda para cuidar da casa, cozinhar ou ajudar com a criança. Isso por si só já é uma baita falta de apoio. Mas o pior é quando essa falta de rede de apoio não vem só da parte física (de presença), mas também na falta de apoio emocional para permanecer amamentando por um tempo que não é tão comum de fato.

Invista em conhecer mulheres que tiveram sucesso ou estando passando pela amamentação prolongada. Cerque-se de pessoas que mesmo não tendo praticado, te apoiam nessa decisão. Fuja de parentes e amigos que não trazem palavras de incentivo.

Se tiver condições, contrate uma consultora de amamentação! Elas são as profissionais mais capacitadas nesse assunto. Vai por mim! Nem médicos estudam tanto sobre amamentação. Na verdade eles não estudam é quase NADA!

Constrangimento

Também não podemos negar que a sociedade tem um olhar erótico em relação ao seio da mulher. Porém não podemos esquecer que somos MAMÍFEROS, logo, o seio é um órgão que tem a única função de nutrir os filhos. Mamilos não são nada polêmicos! Já passou da época de tratarem os corpos femininos como disponíveis para atender aos desejos do outro e respeitarem que são livres para exercerem suas funções. Amamentar é um ato de amor puro entre mãe e bebê. Quem deturpa essa prática não merece atenção e inclusive está infringindo a lei!

Segundo a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, “é assegurado à lactante o direito de amamentar a criança em todo e qualquer ambiente, público ou privado, ainda que estejam disponíveis locais exclusivos para a prática”.

Quem infringir essa lei proibindo ou constrangendo a mulher no ato da amamentação está sujeito à multa!!! Isso vale pra senhora que diz que é feio ou para colocar um paninho em cima, para o senhor que olhar de maneira mal-intencionada ou falar gracinhas e até para seguranças e donos de estabelecimentos que peçam que a mulher saia ou busque local “apropriado”.

Exaustão

Por último e não menos impactante… nós podemos sim ficar exaustas com a amamentação prolongada.

A tendência é tudo ficar mais simples. O bebê conseguir acessar o seio em qualquer posição, por conta própria ou até falar que quer mamar. Mas eles vão ficando mais pesados, mais fortes. Causando dores e uma coluna prejudicada à longo prazo.

Alguns não dormem a noite toda e ir amamentar a cada chamado ou durante boa parte da noite por mais de 2 anos também é exaustivo ao extremo.

Ficar disponível integralmente para a criança também pode trazer uma exaustão emocional, pois enquanto estamos amamentando lembramos de muitas coisas que poderíamos ou deveríamos estar fazendo.

Nesse ponto, além de ter um preparo físico e buscar apoio para ajudar em afazeres, ter um mantra na cabeça ajuda. Fale quantas vezes for preciso:

  • Amamentar é o melhor que tenho à oferecer ao meu bebê
  • Para mim são 2, 3, 4 anos, para meu bebê é a vida dele inteira

E o principal:

VAI PASSAR!

Porque passa… Ah se passa. E voando! E muito provavelmente você lembrará desse momento único com muito carinho e nostalgia.

Mas e os malefícios da amamentação prolongada para a criança?

A verdade é que não há na literatura algum malefício causado pela amamentação. Dure ela o tempo que durar, pois é um ato natural, fisiológico do ser humano. Portanto só temos malefícios quando encerramos a amamentação antes do que o bebê ou a mãe gostariam ou até antes do desmame natural.

O desmame natural é quando o bebê vai deixando gradualmente de mamar e corre em média entre 2 e 4 anos e RARAMENTE ocorre antes de 1 ano de vida. Esse desmame pode ser livre, onde o bebê guia de acordo com suas necessidades. Pode ser direcionado pela mãe, fazendo acordos com o bebê à medida que a idade avança e ele compreende mais as dinâmicas de relação.

O desmame natural também pode ocorrer de forma abrupta, normalmente quando a mulher tem uma nova gravidez e o bebê passa a estranhar o novo sabor do leite.

Não há indicação geral de se desmamar a criança no caso de nova gravidez. O ato de amamentar pode trazer contrações uterinas, porém essas não causam abortos em gravidezes sem alto risco.

Tudo bem Nutri, já entendi e estou segura da minha escolha sobre amamentação prolongada! Mas como fugir das críticas e palpites?

Vou dar saídas descontraídas para aqueles clássicos palpites que você provavelmente vai ouvir ao longo da sua jornada “amamentícia”. Fui construindo um banco de respostas rápidas para ficarmos em paz e, às vezes, colocarmos o palpiteiro em seu devido lugar!

Palpiteiro: “Ainda tem leite aí?”

Resposta: “Não, agora sai vitamina de fruta!” Brincadeiras à parte, saiba que o leite materno no segundo ano de vida ainda representa:

  • 95% das necessidades de vitamina C
  • 45% da vitamina A
  • 38% das proteínas (com anticorpos)
  • 31% das calorias totais

Que uma criança precisa por dia.

Palpiteiro: “A criança está usando o peito de chupeta!”

Resposta: A chupeta foi criada pelo ser humano para suprir a necessidade do seio materno e não o contrário. Se alguém está usando alguma coisa é você que quer um utensílio de plástico para substituir o seio. Não tem vantagem para a criança.

Palpiteiro: “Vai deixar a criança dependente de você!”

Resposta: Essa você já viu que não é verdade. Crianças que são prontamente atendidas em suas necessidades FISIOLÓGICAS como a de mamar, não produzem tantos hormônios de estresse quando as que não tem a necessidade atendida. Isso leva a crianças mais velhas e adultos mais estáveis emocionalmente, seguros e confiantes de si, além de vínculos familiares mais saudáveis.

Palpiteiro: “É feio criança grande mamando!”

Resposta: Se a recomendação MÍNIMA é de 2 anos e o desmame natural costuma acontecer até em média 3-4 anos, onde que esse palpiteiro está vendo alguém grande? Enquanto a criança está formando suas funções cognitivas, sociais, físicas, emocionais e mamar, ela é uma LACTENTE. Não existe criança grande, existe respeito às necessidades das crianças.

Palpiteiro: “Dá uma mamadeira que a criança vai dormir a noite toda!”

Resposta: Bicos podem causar desmame precoce. Mamadeiras não são benéficas em nenhum sentido. Usar outros alimentos pode estar na verdade sobrecarregando a digestão da criança, fazendo o mesmo que uma feijoada faz no adulto, por exemplo. Dá sono? Dá! Mas será que é saudável “encher” a criança pra isso?

Palpiteiro: “Amamentei só 4 meses e não morreu!” “Na minha época não tinha nada disso e tá todo mundo vivo!”

Resposta: “Não morreu? Que coisa! Mas meu objetivo não é esse, não!” Não é porque você não está observando um efeito físico agora, que isso não tenha trazido algum prejuízo. Se existem pesquisas e instituições que recomendam amamentar por 2 anos OU MAIS e que o melhor alimento é o leite materno, se você quer amamentar e está disposta a isso? Deixe essa pessoa falando sozinha!

Faça uma campanha: Troco um palpite sobre a minha amamentação prolongada por apoio nos cuidados, massagem nas costas ou marmita no congelador!

Garanto que muitos deixarão de palpitar! ☺