Algumas pessoas apresentam intolerância ou sensibilidade ao glúten, com sintomas como dor abdominal, dor de cabeça, inchaço e dores articulares depois de comer qualquer alimento que contenha essa proteína. Hoje estima-se que 5% da população mundial tenha esse incômodo.
Apesar de as taxas serem baixas e não terem se alterado nos últimos anos, a percepção na prática clínica é de que os casos aumentaram, já que o diagnóstico passou a ser mais preciso, com testes e exames específicos. Com isso, o tema da intolerância ao glúten passou a ser mais divulgado e conhecido também. E de repente, a dieta que antes era exclusiva de pacientes com uma condição específica passou a ser adotada por aqueles que acreditam ser melhor para a saúde e a forma física.
O que é o glúten?
O glúten é uma proteína naturalmente presente em cinco tipos de cereais: o trigo, a aveia, o centeio, a cevada e o malte, e que confere elasticidade e maciez a diversos tipos de alimentos como pães, massas, biscoitos, salgados, tortas e bolos. O consumo de alimentos que contém glúten aumentou muito nos últimos 40 anos com o processo de industrialização – pães/biscoitos, massas, cereais matinas e mesmo bebidas como cerveja passaram a ocupar as mesas das pessoas ao redor do mundo com muito mais frequência. A matemática da dieta sem glúten é simples: cortar esses tipos de alimentos citados acima pode reduzir as calorias da dieta e resultar em menos quilos na balança.
Mas será que cortar o glúten da alimentação sem motivos médicos não tem consequências para a saúde?
Essa foi a pergunta de um estudo realizado por um grupo de pesquisadores do Departamento de Nutrição da Universidade de Harvard nos EUA, apresentado em março deste ano em uma conferência da American Heart Association.
Como foi o estudo?
Os pesquisadores avaliaram o consumo de glúten e a incidência de diabetes tipo 2 entre quase 200.000 participantes ao longo de 30 anos. Nesse período, foram confirmados cerca de 16.000 casos de diabetes tipo 2 entre todos os participantes do estudo. A maioria dos indivíduos participou do estudo antes que as dietas glúten free se tornassem populares, então não há dados sobre a retirada total do glúten, mas foram encontradas grandes variações entre as quantidades médias consumidas da proteína.
Quais os resultados?
Os resultados mostraram que os participantes que consumiram mais glúten (em média 12 gramas por dia) tiveram um risco 13% menor de desenvolver a doença, se comparado aos que consumiram as menores quantidades da proteína (cerca de 4 gramas diárias). Quem reduziu o glúten na dieta teve um menor consumo de fibras, que são um conhecido fator protetor contra o surgimento da doença, e por isso os pesquisadores concluem que limitar a ingestão de glúten não facilita a prevenção de diabetes. O ganho de peso também não foi diferente entre os participantes, ou seja, diminuir o consumo de glúten também não é efetivo para diminuir os números da balança.
E aí nutri, dieta sem glúten é saudável para todos?
O glúten só deve ser retirado por indicação médica, caso haja diagnóstico de doença celíaca ou da sensibilidade não celíaca.
Alimentos fonte de glúten, desde que compostos por grãos integrais e fibra de cereais, oferecem mais nutrientes – e são mais baratos, diga-se de passagem – do que muitos produtos glúten free, auxiliando no controle da glicemia e do triglicérides, na absorção de vitaminas e minerais e no bom funcionamento da flora intestinal. O segredo está no controle das porções! E quanto a isso, procure um nutricionista para avaliar as suas necessidades e te orientar melhor.